Eu passeei as mãos pelos cabelos dele. Ele ronronou, como um
gato. Pelo hermoso. Fixei meus olhos
em seus olhos castanhos, deitado ao seu lado. A chuva caía. Cenário de filme de
amor. Ensaiei me levantar, mas ele segurou meu braço:
- Fica.
Fiquei. Ele continuou a me olhar. Em dias de carência como
esse, uma chuva, um par de olhos castanhos que não desviam dos nossos e um
chamego são a mistura perfeita para um desastre.
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- E como se conheceram?
- Numa noite de novembro. - eu disse.
Não contei que eu sabia a data. Não mencionei que eu sabia a
roupa que ele estava, as palavras que havia me dito, como havia sido o seu
toque no meu corpo, como dormimos abraçados a noite toda e como ficamos o dia e
a tarde de domingo juntos.
Não contei como foi o pedido ruidoso e silencioso. Não
contei da camisa preta e da chuva quando achei que era o fim, mas não foi. Não,
não poderia falar sobre todas as suas manias, tiques e como ele beijava a minha
mão.
- Mas nem lembro mais dele.
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Eu liguei o celular pela milésima vez. Vi seus olhos verdes
e seu cabelo loiro na foto do perfil do WhatsApp que havia acabado de me
responder.
Seus olhos verdes.
Ele estava lá, na porta. Riscando o tênis no chão, sozinho
em meio a multidão. Mas ninguém ali tinha seus olhos verdes. Ele me viu. Sorri.
Ele sorriu. Seus olhos verdes brilharam.
Pronto. Fui fisgado. A merda tava feita.
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Ele insistiu.
Eu dei pra trás. Já estava deitado.
- Tô aqui na porta da sua casa.
Louco! Desci e o beijei, dentro do carro. Ele colocou Adele
para tocar e a sua mão direita na minha coxa esquerda e sorriu pra mim. E ali,
dentro do carro, eu já tinha a poesia da nossa noite pronta na minha cabeça.
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"Baby, this is what you came for..."
Ele tocava violão. Ele era bonito e tinha uma voz bonita. A
gente conversava e sorria. Mas ele era de Sagitário e eu tinha 21.
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