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23 de maio de 2019

Silêncios




Há tempos perdi a sutileza,
há tempos perdi a perícia
das palavras tecer a proeza
de captar quem o coração cativa

O desejo é o meu maior obstáculo:
a sua boca faz dele o meu susserano,
o seu corpo faz de mim dele vassalo.
Ver-te nu, em pelo, o desejo diz, sussurrando,
E meu desejo de saciar o desejo... eis aqui agora um escravo

Perco as palavras,
Troco as sílabas,
Erro as letras,
Confundo as rimas,
Sofro de silêncios,
Eu, logo eu, cantor sem fim de poesias

Há tempos - há de se dizer porém -
que o amor me virou o rosto,
revirado em desgosto,
não me dá um vintém.
Há tempos, eu assumo:
não amo ninguém.
E, assim sisudo,
de tempos em tempos,
sem por que, nem por quem
de morrer de amores procuro,
faz-se a semente,
cai-se o fruto,
não tão verde, tampouco maduro,
Pode-se dizer,
Qualquer um argumentar,
Por que lágrimas por palavras
sem fé delas o amor despertar?