Pílulas
Dissequei algumas firulas
E escutei você falar de dores que não são suas
E me calei.
Eu não gritei.
Eu deveria.
Eu não chorei,
Quando eu podia.
O galo não cantou três vezes,
Mas eu não hesitei em negar
O sangue que corre nas minhas veias.
Porque tem dias que falar me incendeia
Mas negar não me alivia
E, no final, eu sofro calado.
O sangue que corre nas minhas veias é o meu fardo
Crime do qual me sentenciaram culpado
Depois de lavarem suas mãos, tal qual Pôncio Pilatos.
No meio do caminho eu tropecei no precipício
E, mais uma vez, não cai.
O precipício é um velho amigo
Que os meus pés cansados rodeiam
Num ciclo de vícios e resquícios.
Só quem nunca se deixou cair (ou quem sobreviveu à queda)
Sabe o que é isso.
Suplício.
Hoje eu falo.
Porque tem dias que falar me incendeia
E negar nunca me alivia,
Mas escrever me aconchega.
E em dias como aquele, onde um pedaço de papel ousou tentar me destruir,
Eu luto, em luto eterno, para que o sangue que corre nas minhas veias
- Se não pra mim, para quem há de vir -
Nunca possa me definir
Cidadão de bem
Questionar é proibido
Mimimi
Fui criado na base do rito
Silencio
A dor da dor pela qual não me sensibilizo
E repito
Pra mim, pros outros, praqueles com quem convivo
Coitadismo
O mundo tá careta
Não posso chamar gay de viado
Nem insultar uma mulher preta
Cala a sua boca e não me julga
Me olha de baixo pra cima e se situa
Sabe com quem tá falando, seu pária?
Não sou gente da sua laia
Sou cidadão de bem
Bíblia debaixo da mão, arma apontada pra sua cara
Não tomo vacina
Só paquero as novinha
Feminismo é meu saco
Lugar de mulher é na pia
Deus, Brasil, família
Minha mulher limpando minha sala,
Meus amante chupando minha pica
Que mané privilégio,
Papo de comunista
Bom mesmo era na ditadura,
O auge da nossa economia
Se liga!
A terra é plana,
Mas ela gira
Não uso máscara, nem vem me falar de vacina
Essa tal de covid já deu,
É mentira
Lula perdeu, babaca
Porque PT é partido de ladrão
Agora a direita que manda
Sou cidadão de bem, meu irmão
Abaixo a hipocrisia
Viva Ustra, o terror da dona Dilma
Se liga!
Pros pobres duzentinho de auxílio,
Pros meus filho
Se liga,
É rachadinha
Sou cidadão de bem, meu irmão
Só falar de família
Que os bobão acredita
Poderia
Pele com pele
Pele com pele,
poema,
Seus lábios de mel
e o doce aroma que é seu,
o céu da sua boca,
estrela,
Cai do céu e incendeia
O meu corpo, sem roupa,
tapete, carpete, toalha, meia,
Peças jogadas,
no chão, colchão, areia
Duro como pedra,
Mole como pluma,
Entregue
como... só você consegue.
Torpe,
cruel,
me provoca e me arranha,
cê me bate, eu apanho,
cê cospe, eu engulo
e o seu toque me percorre,
seus dedos já me conhecem
e a sua boca não diz nada,
já diz tudo
Arrepio mudo,
Grito,
Peço arrego,
aconchego,
afeto, tato
cê me abraça, estremeço,
cê me ama, não me esqueço
E cê dentro de mim,
eu dentro docê.
Doce,
Suave,
Forte
ou violento
é o nosso ato de amor, nego,
é sexo,
vem sem moderação e sem receio.