Há coisas que só quem tem poesia
na alma consegue entender. Alguma vez você já sentiu um tsunami, literalmente
um tsunami, que o submerge e o afoga no mar de emoções? Você consegue sentir,
claramente, a vida surgindo, com uma mão pesada, e o sacode, balança? Poesia
não é apenas se emocionar. As emoções são naturais, afinal. Todo mundo sente.
Tristeza. Alegria. Pena. Poesia é estar submerso nas emoções. Ser sacudido por
elas. Sentir a emoção. Pensar a emoção. Transbordar a emoção. Ser poeta não é
ser escritor. Há quem é poeta e não transforma em letras as suas emoções. Há
quem transborde em cores. O vermelho da paixão ardente que consome o seu
interior por baixo do amarelo do medo que aprisiona, dentro das formas
abstratas de algo que não se sabe explicar. Poesia é não saber explicar. Há
quem transborde em canção. A explosão de uma orquestra como a explosão da vida.
Dentro de nós, nada é calmo. Tudo é explosivo.
Há quem escreve e não é poeta.
Porque não explode. Porque não é sacudido pela vida. Porque nada afeta. Porque
enxerga o mundo preto e branco. Ser poeta é ser um eterno incompreendido. O
sentimento que transborda é parte. E a outra parte sempre está lá dentro. Você
quer tirar tudo. Quer mostrar para o mundo aquilo que você sente. E as palavras
não são suficientes. As cores não são boas o bastante. As canções não conseguem
transmitir. E você insiste. E você sofre. E você mostra parte daquilo tudo.
Ser poeta é, por que não?, ser
apaixonado. Estar apaixonado. Viver apaixonado. Apaixonar-se. Por uma ideia.
Por um ideal. Por um trabalho. Pelas cores. Pelas letras. Pelo som. E,
finalmente, por alguém. Ser poeta é ligar-se patologicamente a alguém. E pintar
suas cores. Degustar o som da sua voz. Soletrar as letras do seu nome e
sobrenome. Esculpir as formas do seu corpo. Gravar as diferentes expressões do
seu rosto. Imitar os seus gestos. Acompanhar os seus passos na dança. Ser poeta
é ser doente, estar doente e, talvez, permanecer doente. Porque, eis o nosso
maior segredo, nunca conseguimos ser, estar e muito menos permanecer
indiferentes.
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