Os finais de semana se arrastam
com a lentidão de um século. Alterno entre criar uma história e contar o que
realmente se passa. E por que não unir os dois? Mas, como eu ia dizendo, os
finais de semana se arrastam. E o personagem que se arrasta na lentidão dos
finais de semana poderia ser uma versão minha, incompleta de tão só, completa
de potencialidades de tão amparado. Um nome diferente, afinal ninguém precisa
saber das coisas loucas que se passam nas mentes estranhas dos dias vazios.
O nome do personagem é Artur.
Assim mesmo, sem H. Sem h de homem, mas com h de hábito. Habituado era a alternar
entre as mais diversas atividades. Ele acordava de manhã e, ainda na cama,
pegava o seu computador. As notícias eram as mesmas. As mensagens continuavam
inexistentes. O final de semana continuaria com o H de horrível. Ele se empolgava
com alguma história interessante, alguma atividade que o preenchia por algumas
horas. Almoçava. Saía, às vezes. Lia. Comia. Cantava. Dormia. Cochilava.
Ligava. Mandava mensagem. Arrumava a casa. Passava roupa. Tirava o cadarço
branco do tênis já lavado no meio da semana e colocava no lugar. Existência
cruel.
Talvez seja errado contrariar a
realidade das coisas, ainda mais quando se estuda para ter introjetada a
mentalidade do real como um espelho passível de reflexão. (Sim, jornalismo.
Assim mesmo, com j minúsculo). Mas, com uma existência como a de Artur, será
que não me permitem um pouco de licença poética? Pois bem. Artur era assim.
Gostava dos finais de semanas completos. Repletos de atividade. Adorava
trabalhar. O ócio é o que o matava. O tédio era seu maior suplício. Artur não
era solitário. Não, não. Dizer tal coisa é um sacrilégio. Mas dizer que Artur
tinha a companhia dos finais de semana é faltar com a verdade. Decidam-se vocês
pelo pecado maior. Artur sofria da incompletude dos românticos. Ou do tédio dos
que se acostumaram a ser por demais atarefados. Eu, como autor, prefiro a
primeira opção, mas a segunda não é completamente falsa.
Sim, sim. Quanto drama, devem
estar dizendo ou pensando. Como se o Artur já não o soubesse e, nos malditos
finais de semana, se condenasse por sentir o que sente. E ele tentava. Não
vamos condená-lo por falta de prática. Saía. Ia ao cinema. Passeava no bosque.
Andava de ônibus. Saía com os seus amigos. E não sejamos exagerados. Nem todos
finais de semana eram ruins. Havia os bons. Havia os ótimos. Havia os que ele
queria congelar. Mas os ruins sempre se sobrepõem na memória.
Artur encontra um Lucas. Ou um
André, um Carlos, um José, um Sebastião. Vazio como ele (nos finais de semana).
Cheio como ele (nos dias úteis). Ansioso por compartilhar a inutilidade de uma
companhia. Solitariamente solitário, amigavelmente repleto das melhores
amizades. Talvez oposto por demais. Talvez parecido em excesso. Mas disposto.
No final, não é esse o ingrediente mais importante?
Talvez tudo isso seja uma
mentira. Talvez não. Talvez o Artur continue o mesmo, nos mesmos finais de
semana. Mas ele segue. Bobo. Entediado. Empolgado. Com a esperança de encaixar
o H certo do seu nome e tirar aquele outro sufocante H da sua vida.
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