"O vício é a marca de toda história de amor baseada
na obsessão. Tudo começa quando o objeto de sua adoração lhe dá uma dose
generosa, alucinante de algo que você nunca ousou admitir que queria - um
explosivo coquetel emocional, talvez, feito de amor estrondoso e louca excitação.
Logo você começa a precisar dessa atenção intensa com a obsessão faminta de qualquer
viciado. Quando a droga é retirada, você imediatamente adoece, louco e em crise
de abstinência (sem falar no ressentimento para com o traficante que incentivou
você a adquirir seu vício, mas que agora se recusa a descolar o bagulho bom -
apesar de
você saber que ele tem algum escondido em algum lugar,
caramba, porque ele antes lhe
dava de graça). O estágio seguinte é você esquelética e
tremendo em um canto, sabendo
apenas que venderia sua alma ou roubaria seus vizinhos só
para ter aquela coisa mais
uma vez que fosse.
Enquanto isso, o objeto da sua adoração agora sente
repulsa por você. Ele olha para você
como se você fosse alguém que ele nunca viu antes, muito
menos alguém que um dia
amou com grande paixão. A ironia é que você não pode
culpá-lo. Quero dizer, olhe bem
para você. Você está um caco, irreconhecível até mesmo
aos seus próprios olhos.
Então é isso. Você agora chegou ao ponto final da obsessão
amorosa – a completa e
implacável desvalorização de si mesma."
Elizabeth Gilbert - Comer Rezar Amar
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