Tudo está rodando. As minhas mãos
tremem. A sensação não é tão ruim. Inebriante. Estimulante. Eu poderia
continuar até a eternidade fazendo isso... Com você. Não com esse qualquer que
faz estas caretas idiotas. Empurro a cadeira. Chuto a mesa. Pego as minhas
roupas no chão. Abro a porta. Olhando para um ponto fixo na parede da sala,
grito: “Sai daqui!”. Não tenho tempo pra explicações. Ou talvez isso tudo se
passa na minha mente. Porque continuo lá, entre um orgasmo fingido ou desejado.
Efêmero, em ambos os casos. Coloco a minha cueca e finjo escutar tudo o que o
outro fala. Palavras, palavras, palavras. Como se eu me importasse. Como se
algo realmente importasse.
“Que nome estranho!”. Vejo a foto
dele no celular. Um chapéu na cabeça, moreno, um sorriso de tubarão na rosto. “Bonitinho”.
“Você vai adorar ele, Gui!”.
Um beijo sufocante. Suas mãos
percorriam e apertavam o meu corpo. Eu não resisti e comecei a percorrer todas
as suas curvas. Detive-me nos botões da sua camisa e no zíper da sua calça,
meus lábios sufocados nos seus. Um calor abrasador. E então...
"Você é vegano, né?". Olhei pra janela. O sol iluminava lá embaixo. Olhei pra ele e sorri. "Não, por que?". "Sei lá. Achei que você fosse". Sim, eu vegano e ele comprou lasanha quatro queijos. Sorri baixinho, lembrando da noite anterior e olhando o cara mais lindo do mundo cozinhando pra mim.
"Você é vegano, né?". Olhei pra janela. O sol iluminava lá embaixo. Olhei pra ele e sorri. "Não, por que?". "Sei lá. Achei que você fosse". Sim, eu vegano e ele comprou lasanha quatro queijos. Sorri baixinho, lembrando da noite anterior e olhando o cara mais lindo do mundo cozinhando pra mim.
Nós nos deitamos naquele chão
frio. Exaustos. Eu me deitei em seu braço e ele me abraçou. Olhamos a janela.
Por alguns minutos, o tempo para. A paixão nos preenche. Tudo o que importa é o
calor dos seus braços.
“... E eu queria dizer que te amo”.
Sorri, emocionado. O primeiro eu te amo. “O primeiro de muitos”, eu pensei.
Guardei o meu celular e olhei para o infinito. A vida é mesmo muito boa. O
sorriso insistia em continuar no meu rosto e eu não fazia nem um pouco de
questão de tirá-lo.
“Você aceita namorar comigo?”. Meu coração
apertou, dentro do peito. Mesmo o seu hálito de álcool não quebrava a magia do
momento. Mesmo a sua afirmação extremamente vergonhosa e constrangedora. Acho
que eu balbuciei um ‘O quê?!?’. Eu me assustei, sem dúvidas. “Sim, eu aceito”.
Você me abraça, na cama. Eu, o cabelo totalmente desarrumado e com a cara de
quem acabou de acordar (literalmente) e você, bêbado, acabado, cara de quem
acabou chegar de uma festa (literalmente).
“Esse está sendo um dos melhores
carnavais”. Será? Porque o meu sim. Nós dois, aqui, sem ninguém. Eu, dentro dos
seus braços. Dormindo e acordando com você. Passeando com você. Eu beijo você e
dou um sorriso. “Tô com fome!”. Vou para a cozinha e, enquanto bebo água, olho
fixamente para qualquer ponto e sorrio. A alegria não cabe dentro do peito.
Como é bom amar!
“É sua!”. Eu seguro a minha
respiração. Eu havia prometido que não usaria, mas aquela aliança era tão
linda. Eu olhei pra ele e o abracei. Tudo tão perfeito. O melhor namorado do
mundo.
“Nossa, essa mulher demorou
demais!”. Meu coração a ponto de sair do peito. Finalmente. Meu namorado,
conhecendo a minha família. Eu observo atentamente a reação da minha mãe. Ela
sorri e o abraça. Minha vó, querida, amada. E, então, minha tia. “Finalmente!”.
São amigos de infância. Tudo como em meus melhores sonhos. Esboço um sorriso de
canto, talvez imperceptível. Talvez não.
“Eu sei que você quer que eu
coloque a minha camisa azul”. Não queria assumir, mas realmente. Ele deixa a
camisa desabotoada. Não falo nada. Mas ele está lindo. Esboço um grande sorriso.
No final da noite, eu coloco a minha cabeça em seu ombro e escuto ele cantar
Elis Regina. Todos felizes. Inclusive eu.
“Ele adora jogar na minha cara
que eu não gosto dele, mas sabe como ele me pediu em namoro?”. Adoro ver a
reação dos seus amigos quando falo isso. Eles sempre entram pro meu time. E com
as duas não foi diferente. O moço não foi diferente. Mas eu gostava de ver como
ele me abraçava, orgulhoso em dizer que eu era seu. Eu sempre me encolho
naquele abraço e dou um sorriso. Este é o papel que eu nasci para interpretar.
“Me desculpa, amor. Eu fui um
idiota. Me desculpa, por favor”. Foi só eu chegar em casa e vi a mensagem.
Chorei muito. Mas o trajeto foi o suficiente para eu esquecer todas as mágoas.
Eu gosto dele demais para ficar magoado por causa de uma briga. Claro que
desculpo. Uma, duas, mil, um milhão de vezes. Ele me ama. E eu amo ele
desesperadamente.
“Volta essa música, amor. É, essa
mesmo!”. A música linda. Parece que eu já ouvi antes. Ela me lembra algum
daqueles filmes da minha infância. Eu me deito em seus braços e ouvimos aquela
música inteira, juntos. Eu não consigo deixar de sorrir. “É essa a nossa
música, amor. Hymne a l’amour”.
“Espera só um minuto”. Vejo a
rua, ao longe. Os carros passam. Risco o chão com o meu tênis. Será esta a
nossa última vez. Treino o discurso que venho repetindo desde a última briga. Ele
está com o casaco preto, sério. Lindo. E talvez, a partir de hoje não seja mais
meu. Engulo as lágrimas. Vamos para a casa dele. No colchão, ele pergunta. Eu
pergunto. E ele fala que é melhor não. Eu não quero que termine. Não quero. Não
pode terminar assim. Ele olha pro chão. “Ok”. Eu o abraço. Ele me abraça. O seu
abraço me sufoca. Minha boca procura a sua. Meu rosto procura o seu. Nossas
mãos se unem. Sou dele novamente.
“Você tá dançando muitoooo!”. Ele
está sorrindo, completamente bêbado. Nós dançamos loucamente. Saudades desses
nossos beijos, nossos corpos entrelaçados e da falta de respiração que o tesão
que eu sinto por ele me causa. “Tinha um cara olhando pra você”. Saudades desse
ciúme besta. Eu não havia visto nenhum outro cara a festa inteira. Porque eu
sou seu, meu bobo!
“Gui, eu já tô pronto”. Gui. Gui.
Gui. O meu nome não sai da minha cabeça. Faz dois dias que ele não me chama de
amor. Deve ser coisa da minha cabeça. Estou com a minha camisa branca, com o
capuz cinza. Ah, ele não gosta dessa camisa. Coloco a minha camisa cinza,
vermelha e preta. Desço o morro e ele está lá. Cara de cansado. Sem um sorriso.
Trago a salada marroquina que a minha tia havia feito, junto com o presente
dele. Ele vai adorar, tenho certeza. Ah, tenho que mostrar o vídeo da minha tia
e da minha prima. Ele vai rir muito! Sorrio pra ele e ele me olha e esboça um
sorriso ‘fake’. “Vamos almoçar. Preciso falar uma coisa com você depois”.
Aconteceu algo. Eu me martirizo. O tempo não passa. Preciso saber o que é.
Preciso desesperadamente saber o que é. E a hora chega. Ele só pode ter me
traído. Não tem importância. O importante é a sinceridade. Eu o perdoo. “Eu
quero um tempo”. Ele não me quer mais. Meu mundo caiu.
Exclui mais uma vez o Tinder.
Hesitante, exclui também o Scruff. Por via das dúvidas é melhor excluir o
Hornet também. Olho pra estante. Ele não a viu. No guarda-roupa, o seu chapéu.
O chapéu branco. Da primeira foto. Sem querer derrubo a caixa. E, lá no fundo,
a aliança. Tiro e observo.
Troco os dias pela noite. Olho no
relógio. Três horas da manhã. Aumento a música. “You're gone and I got to stay high All the time to keep you off my
mind High all the time to keep you off my mind Spend my days locked in a haze Tryin
to forget you babe, I fall back down Got to stay high all my life to forget I'm
missing you”.