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26 de setembro de 2012

Entre Lobos - Parte I



 Aparentemente eu sou um cara normal. Minha aparência não é das piores, aliás. Sou o típico “garoto perfeito”, ou seja, cabelos loiros, olhos azuis e corpo escultural. É, não posso reclamar do que vejo no espelho.
Eu sou desejado pela maioria das pessoas do meu colégio. Gostaria de observar que estudo em um colégio onde só estudam garotos. Não se estranhe, aqui é como uma prisão. Muitos destes garotos vão namorar garotas quando saírem daqui. Muitos, não todos...
MEU SEGREDO Nº 01: EU REALMENTE GOSTO DE GAROTOS.
As coisas por aqui são bem definidas. A maioria dos garotos não quer perder sua masculinidade, por isso a maioria não pratica o sexo propriamente dito. Preferem apenas as preliminares. Acaba com o stress, relaxa, goza. Porém o sexo propriamente dito, com penetração, não é tão comum. Não são todos que o praticam frequentemente.
MEU SEGREDO Nº 02: EU PRATICO SEXO FREQUENTEMENTE.
Os garotos que praticam sexo frequentemente geralmente montam um grupo. Nesse grupo nada é definido. Todos fazem de tudo. No meio da noite, nos dormitórios onde eles se encontram, é um bacanal de orifícios, mãos e bocas. E gemidos. Muitos gemidos. Os gemidos são como uivos de lobos. Mais e mais vão se juntando à “matilha”.
Monogamia não é o comum nesse colégio. Seguem-se os princípios de igualdade e fraternidade. Todos devem se dividir mutuamente. A monogamia é vista como egoísmo. Mas, o que ninguém sabe, é que eu abomino essas práticas de promiscuidade.
MEU SEGREDO Nº 03: EU TENHO UM AMANTE
                O nome dele é Artur. É o meu cavaleiro. Ou melhor, o meu cavalheiro. Nesse colégio de brutos e mal educados ele é um verdadeiro gentleman. Artur é o meu porto seguro. Pode parecer estranho dizer que o fato de estarmos juntos há tempos é perigoso. Mas é a verdade. É arriscado ser fiel a alguém por aqui. Mas ele me faz bem, extremamente bem e o nosso amor é o nosso segredo.

*    *    *
               
Hoje é uma noite especial. Noite de Lua Cheia. É impressionante como ela afeta Artur. Ele fica extremamente carinhoso e sedutor nessas noites.
                Caminho para o seu quarto e escuto os gemidos nos outros quartos. Parecem lobos. Fico me perguntando se os funcionários não escutam ou se fingem que não escutam. Os gemidos aumentam. É, acho que é a segunda opção.
                Ando distraído e esbarro com o João. A propósito, acho que não falei sobre o João. Digamos que ele seja “o líder da matilha”. Um garoto bruto e mal educado, extremamente malicioso e satírico. Sente prazer em humilhar as pessoas e ficar fazendo trocadilhos sujos. Ah, e ele me persegue. Não só a mim, obviamente. Ele é um caçador. Gosta de carne fresca e intocada. É o meu caso. Pelo menos é o que todos do colégio pensam...
                - Olá! – ele me cumprimenta, com um sorriso malicioso. – Andando por aí a essas horas? Eu poderia pensar que você está indo encontrar com alguém escondido.
                Levo um pequeno susto. Será que ele sabe? Não, não é possível. Eu e o Artur somos extremamente cautelosos. Escolhemos os horários em que os garotos estão “ocupados” demais para nos espionar. Os gemidos denunciam que a matilha está reunida. O mais estranho é que o líder dela está aqui, na minha frente.
                - Que milagre é esse? O líder da ma... – começo a falar, mas detenho-me. A matilha foi um nome que o Artur deu àquele grupo estranho, mas eles não iriam gostar nem um pouco do apelido. – O líder do grupo andando por aí, quando já estão todos reunidos.
                 - Estou procurando novos integrantes. Seria uma honra se você se juntasse a nós. Você sabe como eu aprecio o seu corpo. – disse ele, me olhando de tal maneira que fiquei envergonhado.
                - Esta não é a primeira vez que tenho a honra de receber tal convite. Mas eu sempre recuso.
                - Isso é o mais estranho...
                Ele ficou me olhando, esperando uma resposta. Ele está desconfiado de alguma coisa, isso eu sei. Talvez esteja me espionando ou coisa do tipo. Vindo do João não duvido de nada. Era preciso cautela redobrada.
                Infelizmente acho que hoje era a minha noite de sorte. Artur aparece no corredor e vem ao nosso encontro. Pela sua expressão, me parece estar surpreso. Mas também parece estar um pouco enraivecido. Será ciúme?
                - Ora, ora. Se não é o nosso cavaleiro Artur. – diz João, com o seu sorriso sarcástico. – Cavaleiros da Távola Redonda, curvem-se aos pés de seu rei!
                Ele se ajoelha aos pés de Artur e depois se levanta, dando risadas.
                - Será que estou atrapalhando alguma coisa? Por acaso os dois estavam indo se encontrar?
                Eu olho para Artur, desesperado. Ele percebe minha apreensão. Sim, era o que eu temia. João estava desconfiado de alguma coisa. Eu pensei que o que ele sentia por mim era apenas um instinto de caçador. Eu era a presa que todos queriam, mas ninguém tinha. Se ele conseguisse conquistá-la ele ganharia mais pontos. Ele era um líder e líderes têm de prezar por sua reputação. Mas, agora, vendo ele de fora da matilha me espionando eu já não tinha certeza se eu era mesmo apenas um troféu a ser conquistado.
                - É óbvio que não, João. Eu estava indo ver a Lua Cheia. Amo noites de Lua Cheia. – foi Artur quem se defendeu primeiro.
                - E você? Onde estava indo? – perguntou João, olhando fixamente para mim.
                - Eu estava indo na biblioteca. Deixei o meu livro por lá.
                - Estranho... – disse ele, pensativo. – Pensei que a biblioteca só abria durante o dia. Mas talvez eu esteja enganado, não é mesmo Artur?
                Artur engoliu em seco. Eu havia me denunciado. Estávamos indefesos.
                - Não sei se vocês se lembram do Marcelo e do Rodrigo. Eles viviam juntos. Onde estava um, estava o outro. Os dois nunca aceitavam participar do nosso estimado grupo. Nós começamos a desconfiar que os dois eram bem mais do que apenas amigos... Resolvemos investigar. Um dia eu os encontrei se beijando no quarto do Rodrigo. Vocês se lembram do que aconteceu com eles?
                Eu me lembrava perfeitamente. No outro dia os dois estavam com os olhos roxos, o corpo cheio de hematomas. Rodrigo estava com o braço quebrado e o Marcelo nem conseguia abrir o olho. Nunca mais os dois foram vistos juntos.
                - Pelo olhar apreensivo de vocês, eu acredito que sim. Vocês dois são mais cuidadosos. Não andam juntos, não são vistos juntos. Mas, será coincidência que ambos rejeitam com veemência os nossos pedidos para se juntar ao grupo?
                Eu e o Artur nos olhamos. Percebemos o erro segundos depois. Estávamos sendo muito imprudentes. Era só inventar alguma desculpa. Mas nenhuma aparecia em minha mente. Acho que já era tarde demais.
                - Acho que agora vocês dois estão em minhas mãos...
                Sim, nós estávamos... Totalmente.

*    *    *

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