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19 de dezembro de 2011

Do charme dos tímidos



Quando me declaro tímido poucos são os que acreditam. Se cheguei a esse ponto quer dizer que estou segurando a barra legal. Ah, mas quem me conhece, sabe! Aliás, mesmo quem não me conhece pode vir a saber. Basta me colocar em uma situação onde fico vulnerável. Por exemplo, ser paquerado pessoalmente ou pelo celular. Posso ser o cara mais falante do mundo no MSN, mas quando a conversa é cara a cara, ou voz a voz aí a coisa muda... Sou cheio de monossílabos, sim ou não, “aham” ou “uai, não sô”. Olhar nos olhos? Só olho quando não estiver sendo elogiado. Mas o sorriso é constante. Aquele sorriso de lado, sorriso sem graça, sorriso amarelo, como dizem por aqui. Eu, pessoalmente, chamaria de sorriso vermelho porque ele sempre vem acompanhado daquele “rubor” nas bochechas.

Quer outra situação tensa é só me colocar para conversar com aquelas pessoas que ficam rindo de tudo que você fala, como se estivessem te achando o cara mais caipira e idiota do mundo. Aliás, me coloca pra falar com uma pessoa esnobe, daquelas que andam com o nariz apontado pro céu. Nessas situações eu não fico vermelho, eu fico roxo mesmo! Claro que se eu sentir que o ambiente está crítico tem o perigo de, em vez de timidez, eu ter uma crise de ira e sair bufando. Tudo pode acontecer...

Mas, cuidado! Você pode se apaixonar por um tímido sem perceber. Vai começar a gostar de conversar com aquele carinha que olha pro chão sempre que você começa a elogiá-lo. Vai achar aquilo a coisa mais fofa do mundo e vai começar a elogiá-lo cada vez mais só pra ver o rostinho dele vermelho e aquele sorriso “amarelo” disfarçado num súbito interesse pelo brilho do piso do local onde vocês estão. Vai começar a ligar pra ele só pra ouvir aquela voz tímida e baixa. E, no telefone, vai fazer de tudo pra deixá-lo sem graça, “ouvir” aquele silêncio e ficar imaginando um rosto vermelho do outro lado da linha. E aí começa a tentar achar mais qualidades dessa pessoa, pois toda vez que você repete algum elogio... “Ah, mas você sempre fala isso...” e volta aquele sorriso, só que agora mais espontâneo, achando graça da sua insistência em deixá-lo sem graça.

Um dia ele se vinga. Enquanto você tenta achar qualidades para elogiá-lo e deixá-lo sem graça, ou forja situações para ver aquele sorriso de lado, ele te estuda minuciosamente. Cada detalhe, cada frase, cada palavra. E aí ele descobre uma coisa que te deixa sem graça! E aí, no dia que ele tiver coragem de usar essa arma, você vai ver o seu primeiro sorriso malicioso e aí, pronto! Você já está completamente apaixonado! Com o tempo vocês vão se conhecendo, quem sabe ele comece a escrever aquelas cartas românticas pra você e você ache tudo muito bonito. Um dos meus pré-conceitos é que todo tímido é romântico por natureza, mas tem gente que não valoriza quando o tímido começa a se soltar e demonstrar esses sentimentos. Tem gente que foge do tímido quando ele finalmente coloca os seus pés para fora da casca. Não façam isso. Eu, como tímido, sei como é difícil ir saindo da casca e se percebermos que não vale a pena a gente se fecha cada vez mais dentro dela. Leia as cartas, guarde-as. Um dia, quando ele estiver totalmente à vontade, você pode tirar as cartas da gaveta, ler pra ele, dizer que achou a coisa mais fofa do mundo e ver, de novo, aquele sorriso sem graça junto com as bochechas vermelhas. Mas, dessa vez, ele vai olhar no fundo dos seus olhos, como a dizer: “eu te amo e fofo é você!”.

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