Quando me declaro tímido poucos são os que acreditam. Se
cheguei a esse ponto quer dizer que estou segurando a barra legal. Ah, mas quem
me conhece, sabe! Aliás, mesmo quem não me conhece pode vir a saber. Basta me
colocar em uma situação onde fico vulnerável. Por exemplo, ser paquerado
pessoalmente ou pelo celular. Posso ser o cara mais falante do mundo no MSN,
mas quando a conversa é cara a cara, ou voz a voz aí a coisa muda... Sou cheio
de monossílabos, sim ou não, “aham” ou “uai, não sô”. Olhar nos olhos? Só olho
quando não estiver sendo elogiado. Mas o sorriso é constante. Aquele sorriso de
lado, sorriso sem graça, sorriso amarelo, como dizem por aqui. Eu,
pessoalmente, chamaria de sorriso vermelho porque ele sempre vem acompanhado
daquele “rubor” nas bochechas.
Quer outra situação tensa é só me colocar para conversar com
aquelas pessoas que ficam rindo de tudo que você fala, como se estivessem te
achando o cara mais caipira e idiota do mundo. Aliás, me coloca pra falar com
uma pessoa esnobe, daquelas que andam com o nariz apontado pro céu. Nessas
situações eu não fico vermelho, eu fico roxo mesmo! Claro que se eu sentir que
o ambiente está crítico tem o perigo de, em vez de timidez, eu ter uma crise de
ira e sair bufando. Tudo pode acontecer...
Mas, cuidado! Você pode se apaixonar por um tímido sem
perceber. Vai começar a gostar de conversar com aquele carinha que olha pro
chão sempre que você começa a elogiá-lo. Vai achar aquilo a coisa mais fofa do
mundo e vai começar a elogiá-lo cada vez mais só pra ver o rostinho dele
vermelho e aquele sorriso “amarelo” disfarçado num súbito interesse pelo brilho
do piso do local onde vocês estão. Vai começar a ligar pra ele só pra ouvir
aquela voz tímida e baixa. E, no telefone, vai fazer de tudo pra deixá-lo sem
graça, “ouvir” aquele silêncio e ficar imaginando um rosto vermelho do outro
lado da linha. E aí começa a tentar achar mais qualidades dessa pessoa, pois
toda vez que você repete algum elogio... “Ah, mas você sempre fala isso...” e
volta aquele sorriso, só que agora mais espontâneo, achando graça da sua
insistência em deixá-lo sem graça.
Um dia ele se vinga. Enquanto você tenta achar qualidades
para elogiá-lo e deixá-lo sem graça, ou forja situações para ver aquele sorriso
de lado, ele te estuda minuciosamente. Cada detalhe, cada frase, cada palavra.
E aí ele descobre uma coisa que te deixa sem graça! E aí, no dia que ele tiver
coragem de usar essa arma, você vai ver o seu primeiro sorriso malicioso e aí,
pronto! Você já está completamente apaixonado! Com o tempo vocês vão se
conhecendo, quem sabe ele comece a escrever aquelas cartas românticas pra você
e você ache tudo muito bonito. Um dos meus pré-conceitos é que todo tímido é
romântico por natureza, mas tem gente que não valoriza quando o tímido começa a
se soltar e demonstrar esses sentimentos. Tem gente que foge do tímido quando ele
finalmente coloca os seus pés para fora da casca. Não façam isso. Eu, como
tímido, sei como é difícil ir saindo da casca e se percebermos que não vale a
pena a gente se fecha cada vez mais dentro dela. Leia as cartas, guarde-as. Um
dia, quando ele estiver totalmente à vontade, você pode tirar as cartas da
gaveta, ler pra ele, dizer que achou a coisa mais fofa do mundo e ver, de novo,
aquele sorriso sem graça junto com as bochechas vermelhas. Mas, dessa vez, ele
vai olhar no fundo dos seus olhos, como a dizer: “eu te amo e fofo é você!”.
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