Câncer, o Caranguejo, é o quarto signo do Zodíaco. Aqui
voltamos novamente à figura de um animal na constelação zodiacal. Um animal
aquático, o que traz a associação de Câncer com o elemento água, da emoção, do
sentimento. “Por mais humilde que seja a constelação de Câncer, seu simbolismo
está longe de ser insignificante. Para os caldeus, e mais tarde para os
neoplatônicos, o caranguejo era chamado o Portão dos Homens, por onde a alma
descia das esferas celestes para a encarnação. Essas associações numinosas com
Câncer sugerem uma dimensão um pouco diferente do bom cozinheiro e da mãe que o
folclore astrológico popular nos oferece. Hugh Lloyd-Jones, no livro Myths of The Zodiac, diz que, de acordo
com alguns autores gregos primitivos, Câncer, e não Áries, começava o zodíaco.
Isso parece estar de acordo com a ideia de que esse signo representa a primeira
emergência da vida, a entrada do espírito num corpo material.”
O mito de Câncer pode ser conferido nesse link http://portodoceu.terra.com.br/artesimbolismo/mitos-04.asp.
A luta de Hera para combater Héracles mostra “... a batalha para se libertar
tanto do poder da Mãe (aqui se refere à mãe arquetípica, o poder de autoridade
do feminino) e da mãe muitas vezes é uma questão acentuadamente difícil na vida
dos cancerianos. O caranguejo, aqui, é o Câncer arcaico para quem a maternidade
é tudo, e para quem o pai é simplesmente o fornecedor da semente.” Câncer é
sufocado pelo feminino e, muitas vezes, pela própria mãe pessoal, que, na
realidade ou até mesmo em sua mente, pode tentar tirar a sua liberdade e
prendê-lo para sempre dentro do núcleo familiar. “O caranguejo, no mito, usa da
astúcia típica de Câncer, agarrando os pés em vez de enfrentar o herói
diretamente. Em outras palavras, mina a estabilidade do herói enquanto ele luta
com o monstro.” Isso reflete a maneira com que Câncer enfrenta os problemas,
muitas vezes sem encará-lo de frente, usando a sutileza e a astúcia para
resolvê-lo. “Pode-se observar muitas vezes, nos homens cancerianos, muita
dificuldade em relacionar-se com o seu próprio sexo, porque os aspectos
“heróicos” do masculino parecem ser simplesmente brutais, agressivos e
violentos.”
Câncer é a união dos pólos feminino e masculino. “Câncer
representa o ventre materno, mas não é unicamente materno. Também é uma união
entre os opostos masculino e feminino, os Pais do Mundo em eterna coabitação.
Acredito que Câncer é levado a procurar essa fonte divina; esse é seu daimon, imaginado tanto como o começo da
vida antes da separação física e do nascimento, como o fim da vida quando a
alma se funde mais uma vez com o Um. Assim, é tanto um anseio regressivo pelo
ventre, como um anseio místico por Deus.” Liz Greene continua explicando que esse
anseio místico por Deus cai primeiramente sobre a mãe pessoal, por isso é um
aspecto tão poderoso na vida dos cancerianos. “O clássico “complexo de mãe” do
canceriano não diz respeito realmente à mãe pessoal. É o primeiro estágio de um
desdobramento gradual em direção a uma fonte interior, embora em geral Câncer
procure, em diferentes períodos da vida, essa fonte personificada numa pessoa
“maternal”, homem ou mulher, que possa “cuidar” dele e livrá-lo do medo do
isolamento e da separação.”
“[...] existe também um poder imensamente criativo em
Câncer. Esse é o reino das imagens não formadas a que o artista dá a luz, e por
essa razão disponho-me a associar Câncer com o poeta, artista e o músico, mais
do que o bom cozinheiro ou a dona-de-casa. [...] Este daimon por trás de Câncer parece mais preocupado em fazer nascer as
imagens do reino oceânico, seja na forma de uma criança de carne e osso ou de
uma criação artística.”
Câncer também é conhecido por ser instável. “[...] Câncer
adquiriu a reputação que sempre teve de ambiguidade e de dificuldade de
definição, o que acho que é um eufemismo. Faz parte da natureza da água e do
inconsciente passar fluidamente de uma forma a outra; faz parte da natureza de
Câncer viver num mundo onde nada é exatamente o mesmo que foi cinco minutos
antes.”
Outro mito associado por Liz Greene à Câncer é o mito de
Aquiles, o filho da deusa do mar Tétis. Eu, como canceriano, tenho de concordar
com a associação. Para quem não conhece o mito fica aqui o link http://greciantiga.org/arquivo.asp?num=0228.
Tétis, no mito, dá a imortalidade ao seu filho Aquiles ao mergulhá-lo nas águas
do rio Estige. “Quando me deparei com esse mito operando em vidas humanas,
muitas vezes foi sob a forma de uma numinosa projeção sobre um filho predileto
e amado, de quem se espera que atinja alturas olímpicas mesmo que a humanidade
da criança seja destruída no processo. Às vezes, quando não há filho de verdade
em quem projetar a visão do desempenho sobre-humano, o canceriano tem essa
postura em relação à sua própria criatividade, achando que tudo que vem dele é
imperfeito e desagradável, a menos que seja divino. Essa pode ser a razão por
que muitos cancerianos não externam seu potencial criativo, esperando até que
um parceiro amado ou um filho venham realizar essa tarefa.” Aquiles é
constantemente vigiado e ajudado pela mãe e só parte para a luta quando seu
amigo e amante Pátroclo morre. “Parece que isso também é uma faceta de Câncer:
nada incita o signo à confrontação direta da vida, a não ser a profunda perda
emocional.”
Concluindo: “A questão da separação da mãe (que, de tão
subjugante abafa o potencial criativo) é um monumental rito de passagem na vida
dos cancerianos, que precisa ser executado muitas vezes, em níveis diferentes.
À semelhança do Caranguejo real, que precisa ficar perto da água e da terra,
Câncer é compelido a se apoiar no mundo concreto, com um dos pés eternamente na
água, para que ele mesmo, finalmente, possa tornar-se o ventre de onde nascerão
os filhos do mar.”
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