Essa história veio porque, e apenas porque, a ficção
romântica nunca foi um forte meu. Digamos que esse Jovem Poeta aqui é dono de
um perfeccionismo que faz com que todas as histórias românticas, aquelas
carregadas de sentimento e emoção, acabem indo para a lixeira. Mas eu mereço
uma boa história de amor contada por mim. Nós merecemos, não é mesmo?
Um sonho intenso de amor
Como começa uma história de amor?
É o que eu me perguntava todos os dias até o dia em que eu
encontrei o amor. Sinceramente, não foi algo real e, por se tratar de algo tão
fantástico, não acredito em minha sorte até hoje. Tem dias em que eu acordo,
olho para o lado e penso que ainda estou dormindo. Estou vivendo um sonho... E
tudo começou não com um olhar, mas com um sorriso.
Meu nome é Rafael e comumente me descrevem como um cara
pacato e discreto, mas popular e sociável. Não tenho nada a negar sobre essa
descrição. Realmente sou pacato, às vezes até demais. Não sou uma pessoa de
arriscar, prefiro o seguro ao incerto. Mas isso não me impede de sonhar, não
mesmo. Mas, mesmo os meus sonhos, eram sonhos de uma vida pacata, tranqüila,
vivendo em alguma choupana à beira de um lago com um bom trabalho na cidade,
não muito agitada, perto da minha pequena choupana. E, enquanto meus sonhos não
se tornavam realidade, eu vivia no meu mundo pacato e tranqüilo, trabalhando
como garçom na Livraria e Cafeteria Expresso Quente, um dos points da cidade. A propósito, sempre gostei de ler. E foi
esse meu hobbie que fez com que eu
procurasse trabalho na livraria. Trabalhar junto aos livros, por si só, já
recarregava as minhas energias e, claro, não havia ambiente mais espiritual
e... pacato!
A minha rotina era sistemática, segura e calma. Tudo que eu
mais queria. Talvez, nem tanto... Na verdade, lá no fundinho do meu ser, eu
tinha uma vontade de arriscar, jogar tudo pro ar, fazer coisas que nunca tive
coragem de fazer. Mas não me permitia nem pensar nessas possibilidades até que
surgiu alguém especial na minha vida.
Foi numa manhã de uma segunda-feira pouco movimentada. A
clientela era, em sua maioria, composta por algumas senhoras idosas tomando seu
café matinal. Porém surge uma senhora muito bem-vestida, usando óculos escuros
e acompanhada de um cara, também com óculos escuros. Os dois se dirigiram para
uma mesa e eu, curioso mas solícito, fui atendê-los.
Ao me aproximar percebi estar sendo observado pelo rapaz dos
óculos escuros e, quanto mais me aproximava, mais o sorriso em sua boca se
largueava. Involuntariamente sorri também e senti uma agitação crescente. A
senhora olhou para o rapaz, depois para mim e sorriu discretamente enquanto lia
o cardápio.
- O que desejam? - eu disse, me aproximando.
- Se você fizer parte do cardápio, vou desejar quatro
xícaras. E bem quente!- disse ele, sorrindo maliciosamente enquanto tirava os
óculos. Seus olhos eram de um azul pacífico, mas a sua aura não era nem um
pouco “calma”.
- Saulo, comporte-se! – repreendeu a senhora. – Vamos querer
duas xícaras de café, por favor. O meu café sem açúcar, querido.
Fui buscar o café. O rapaz, Saulo, ficou me olhando enquanto
isso. Tropeço em uma das mesas e quase caio e chamo a atenção de todos. Ele dá
um sorriso maroto e a senhora olha, preocupada, para mim. Morrendo de vergonha
continuo o trajeto.
Com os cafés já prontos volto para a mesa do “perigo”.
Coloco as xícaras na mesa e, preparando-me para sair, a senhora diz:
- Com licença, querido. Gostaria de desculpar-me pelo
comportamento inadequado do meu neto aqui. – diz ela, lançando um olhar de
reprovação para Saulo. – Ele não sabe comportar-se! Mil desculpas...
- Ah, vó! Relaxa. Você nem se importou, não é? – perguntou
ele, com aquele sorriso malicioso que não saía do seu rosto.
- Ah, minha senhora, claro que não. – respondi, sentindo que
minha face já devia estar vermelha.
- Olha, ele é tímido! – disse ele. – Como você se chama?
- Rafael. Eu chamo Rafael. – respondi, involuntariamente
sorrindo.
- Aqui está o meu telefone, Rafa. – disse, entregando-me o
seu cartão. – Ligue quando puder. Quando não puder também. Para você estou
sempre disponível.
A essa altura, sua avó já estava sorrindo conosco. Pegou
minhas mãos num gesto de muito carinho e me convidou para qualquer dia desses
visitar a casa em que os dois moravam. Já à vontade, respondi que sim. Fui mais
ousado. Combinei de ir no dia seguinte, à noite.
Os dois foram embora, mas não sem antes Saulo conseguir com
que eu o deixasse beijar as minhas mãos. Voltei ao trabalho pensando na família
excêntrica que havia acabado de conhecer. Durante o restante do dia minha mente
alternava entre ir ou não ir à casa dos dois. Que loucura, pensava eu, nem
conheço esses dois direito. Mas o endereço que eles haviam me dado era de um
bairro até bastante conhecido, de classe média.
No dia seguinte, depois do trabalho, resolvi seguir a minha
intuição mais do que a minha razão e fui visitá-los. Confesso que, mesmo
sabendo da situação dos que moravam no bairro, me assustei com o tamanho e a
beleza da casa. Toquei a campainha e fui atendido por Saulo.
- E aí, cara? Não é que você veio? Entra aí!
- Sempre simpático você, né? – disse eu, sorrindo.
- Hoje você está mais atiradinho. Hum... Assim que eu gosto.
– disse ele, dando uma risada contagiante.
Entramos e tive uma surpresa: sua avó não estava em casa!
Foi aí que percebi a cilada que eu tinha me enfiado. Olhando para Saulo percebi
o seu já rotineiro sorriso malicioso.
- Deixa eu te contar um segredo, Rafa. A minha avó gosta
muito do netinho dela. Então sabe... – dizia ele, se aproximando cada vez mais.
– Às vezes ela resolve dar uma mãozinha.
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