“O signo dos Peixes está mergulhado no mito pois,
diferentemente de muitas outras criaturas zodiacais, a linhagem do último dos
signos precede os gregos claramente de muitos séculos. Peixes também é um dos
mais surpreendentes signos, visto que a exploração de seus mitos gera visões
que não são normalmente associadas à tradicional “alma sensível” que pode
tornar-se um bêbado, um músico ou uma enfermeira. O último signo é também o
primeiro, porque forma o cenário de onde surgirá o novo ciclo; visto sob esse
prisma, não é estranho que o simbolismo de Peixes nos ligue não com o deus
Netuno, nem com qualquer outra divindade masculina, e sim com a Mãe primordial
que já encontramos no signo de Câncer, cuja manifestação é a água”.
“O peixe tem um simbolismo muito velho e variado. É uma das
imagens teriomórficas que abrangem todo o espectro desde as profundezas
orgiásticas aquáticas da deusa da fertilidade até a carne transcendental de
Cristo. Como a pomba, que percorre o mesmo espectro e é o pássaro de Jatar e de
Afrodite, assim como o símbolo do Espírito Santo, o peixe é pagão e cristão, e
sua natureza, em última análise, é feminina”. Jung explica alguns significados
do arquétipo do peixe. “As Grandes Mães mitológicas geralmente são um perigo
para seus filhos. Jeremias menciona a representação de um peixe numa lâmpada do
cristianismo primitivo, mostrando um peixe devorando o outro. O nome da maior
estrela da constelação conhecida como Peixe do Sul – Fomalhaut, “a boca do
peixe” – pode ser interpretado nesse sentido, exatamente como no simbolismo do
peixe toda forma concebível de concupiscência devoradora é atribuída aos
peixes, que se diz serem “ambiciosos, libidinosos, vorazes, avarentos, lascivos”
– em resumo, um emblema da vaidade do mundo e dos prazeres terrenos (“voluptas
terrena”). eles devem essas más qualidades, principalmente, ao seu
relacionamento com a deusa-mãe e deusa do amor Istar, Astarte, Atagartis ou
Afrodite. Como planeta Vênus, ela tem sua “exaltatio” no signo zodiacal dos
Peixes”.
“Assim um desses peixes é a grande deusa da fertilidade, e o
outro é seu filho. Ela é devoradora, destrutiva e lasciva: o mundo primordial
dos instinto. Ele é o redentor, Ichthys, o Cristo. [...] Em Peixes, encontramos
o filho da Mãe, a história doce e amarga do filho que está “de empréstimo”
apenas por uma estação, e cuja pungente história chegou até nos levemente
disfarçada na doutrina cristã. As conexões entre a era astrológica de Peixes e
o cristianismo sã óbvias, principalmente nas referências fornecidas pelos
evangelhos – “pescadores de homens”, os pescadores como os principais
discípulos, o milagre dos pães e dos peixes. O simbolismo mostra Cristo e os
que nele creem como peixes, e assim por diante. [...] O tema do redentor e da
vítima fala muito de perto a Peixes. Quer a pessoa pisciana se identifique mais
com a vítima, tornando-se aquela cuja vida é desmembrada, ou como redentor, que
salva do sofrimento, não há muito o que escolher entre eles, visto que são duas
facetas da mesma coisa. Assim também é o peixe voraz, a deusa, de quem a vítima
precisa ser resgatada; ou para quem o redentor precisa ser sacrificado, para
absorver os outros do pecado. Essas três imagens – salvador, vítima e monstro
devorador do pecado e da condenação – são parte integrante do mesmo motivo mítico.
Já se disse que é plausível as pessoas de Peixes se encanarem ou para sofrer ou
para salvar. Como generalização, é mais verdadeira do que a maioria; e em geral
ocorrem as duas coisas, pois somente o ferido tem compaixão. Nenhum signo tem
tanta propensão a apresentar-se como vítima da vida, e nenhum outro signo tem
tanta propensão à autêntica empatia com o sofredor. Também nunca se viu outro
signo cair tão rapidamente no caos, na licenciosidade orgiástica e na
dissolução ... “.
“O que isso nos diz acerca do padrão de desenvolvimento de
Peixes? Creio que, em primeiro lugar significa que os dois peixes não podem ser
separados. Para Peixes, o mundo caótica da Mãe está sempre desconfortavelmente
próximo. Peixes, como Câncer, pode criar a partir dessa profundeza: há uma
longa lista de “grandes nomes” da música, da arte e da literatura que
manifestaram o doce e trágico anseio por esse mundo aquático com profundezas
insondáveis. A maioria deles passou por muito sofrimento na vida pessoal. A
união com o mundo inconsciente não é uma tarefa fácil para um homem de nossa
cultura. Frequentemente, é assustador, para a psicologia masculina,
descobrir-se um Filho da Mãe, porque o desmembramento sempre ronda por perto;
para Peixes a experiência da morte e do desmembramento faz parte integrante até
mesmo da criação artística. Conheci muitos piscianos que tentaram tornar-se
criaturas intelectuais, super-racionais, mas sempre soava um pouco falso, pois
o mundo irracional jaz logo abaixo da superfície. Muitas vezes esses piscianos
envolvem-se fatalmente com pessoas que exteriorizam para eles o mundo caótico
da deusa; assim – tocam as profundezas por delegação, tornando-se “enfermeiros”
do louco. Einstein, um pisciano cuja maior contribuição foi dada ao mundo da
ciência e da matemática, era um místico que não se envergonhava disso”.
Agora, voltemo-nos à algumas imagens mitológicas. “É
inerente a praticamente todas as histórias sobre os santos, que combinam a
santidade com o vício e o sadismo; de alguma forma, essas figuras pertencem ao
destino que atraem. Acredito que, em Peixes, esses dois opostos vivam lado a
lado. Pode até ser possível sugerir que um gera o outro. Pode até ser possível
sugerir que um gera o outro. Portanto, não é de surpreender que muitos piscianos fujam para a
segurança do intelecto, para contrabalançar esse dilema. [...] Qualquer que
seja o papel desempenhado por Peixes nesse drama mítico, ele é, na realidade
todos os atores; ou, dizendo mais adequadamente, todos os atores vivem dentro
dele. [...] Talvez esta seja uma imagem do sofrimento suportado pelo espírito
pisciano por estar encarnado na carne densa. A carne pode ser uma prisão e um
devorador do espírito; mas o espírito, igualmente, não é só um redentor, mas
também um devorador da carne. Em Peixes, os dois certamente não se entendem. O
pisciano clássico, alcoólatra, ou toxicômano, na busca do espírito, desmembra
sua prisão corporal. Mas a conclamação dos Alcoólicos Anônimos, que tem ajudado
tantas pessoas que sofrem desse problema, é no sentido de ter fé num poder
maior que a própria pessoa”.
Concluindo: “Talvez seja o destino de Peixes viver com esse daimon extraordinário, porque
repudiá-lo, como sugere o mito de Penteu, pode ser perigoso. A própria vida
pode desmembrar, se não for bem-vinda. A identificação com a figura do Messias
também é um tema pisciano. Assim também é a identificação com a vítima, pois
como já vimos elas são uma e a mesma pessoa. Entretanto a profunda compaixão de
que Peixes é capaz e seu acesso criativo às profundezas do insondável mundo da
água são as dádivas decorrentes da proximidade de um tal deus”.
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