"Tenho de confessar
Tenho de externar o meu interior
Eu vou sair espalhando o que tenho de pior
Talvez não seja tão ruim assim
Sei que isso vai fazer bem pra mim"
Jovem Poeta
Eu preciso evoluir. Eu preciso enfrentar e deixar de fugir.
Eu preciso deixar de escrever na terceira pessoa no imperativo quando a ordem
se refere apenas à mim. Preciso deixar de projetar todos os meus defeitos nos
outros. Agora eu tenho a consciência... Por querer cultivar apenas o melhor de
mim eu me fecho cada vez mais. Narcisista... Não! Não é essa a palavra.
Autocomplacente, talvez... Jogar os meus defeitos na minha cara é a mesma coisa
de se condenar ao meu ódio eterno. E isso simplesmente porque não sei encarar
os meus defeitos. Saber que sou deficiente em algo ofusca todo o brilho das
coisas em que sei que sou bom. Quero ser bom em tudo. Quero todos os elogios,
quero todos os olhares e quero apenas aprovações. E a inveja me corrói sempre
que alguém ocupa esse meu lugar. A minha língua se enche de veneno para falar
mal de todos que me superam e que recebem mais brilho do que eu. Narcisista?
Não! Não é essa a palavra. Apenas dependente. Os elogios são as únicas certezas
que trago de que sou bom em algo. E se sou criticado... Bem, se sou criticado
já não há mais certezas. Eu sou dependente. Dependente da opinião. Quero ser
sempre bem aceito. Que se fodam os outros? Não, essa frase nunca foi minha.
Mesmo na época em que foi tão usada por mim eu ainda me importava. Eu fazia o
que não devia, mas me importava. Teve uma fase da minha vida em que recebi
grandes ofensas, altas críticas. Mas foi a fase da minha vida em que eu fui eu
mesmo. Foi a fase que, mesmo com toques, ou melhor, empurrões dos outros, eu
consegui me desprender do famoso “o que os outros vão pensar?”. Acho que
transmiti a ideia errada de que eu não me importo com o que os outros pensam de
mim. Eu me importo. Mais do que me importo, eu me alimento do que os outros
pensam de mim.
Eu sou o que os outros acham que eu sou. E como era difícil
ser o cara que não se importava. Como era difícil ser o cara que se arriscava.
Houve uma coisa que me fez desequilibrar. Uma coisa que era defeito para uns,
coisa que era qualidade para outros. Ser o cara com uma vida sexualmente ativa.
Ser o garoto com a vida socialmente ativa e com agenda de encontros cheia. E,
pensando agora, não sei dizer se eu sou realmente esse garoto. Acho que é o que
eu quero, mas não é o que esperam de mim. Ou talvez o rótulo de “safado”,
“galinha” e outros sejam rótulos que eu não queira adicionar à minha lista de
bons rótulos de bom garoto. E eu voltei para a minha vida pacata de bom aluno e
bom garoto. Bem, nem tanto assim... Na verdade o bom garoto nunca foi um bom
garoto. É só uma máscara. Ou talvez eu saiba que a sociedade não considera
coisas de bom garoto o que eu faço e deixo no escondido, coisas que falo só
para os melhores amigos. Não me permito nem mesmo arriscar um namoro, não me
permito ser visto com algum cara. Tenho medo de o acharem feio, tenho medo de
não gostarem dele, tenho medo dele não ser aceito. É, transfiro todos os meus
medos para ele também. E por isso todos os meus relacionamentos acontecem no
escuro.
O bom garoto gosta do proibido, o bom garoto gosta de
garotos, aliás, dos caras. Caras, alguns bem mais velhos. Será o que iriam
achar disso? Às vezes me pego maliciosamente pensando nas situações mais
loucas. Eu sendo pego ficando com um cara mais velho. Eu passeando de mãos
dadas com os caras. Eu chamando atenção negativamente através de uma relação.
Sim, eu projeto a minha salvação da importância que dou ao que os outros pensam
através da relação. Não há como negar. Eu realmente espero um príncipe. Um
príncipe que me salve de mim mesmo. Mas estou escrevendo isso tudo apenas
porque sei que o único que pode me salvar de mim mesmo sou eu. Não serei
hipócrita agora que já entrei em mim mesmo e me desnudei: eu sonho me arriscar.
Ser dono da minha própria vida e não deixar com que os outros a controlem. Mas
tenho medo de perder as minhas medalhas de bom garoto. Me apeguei tanto a elas.
Tenho medo de não receber elogios, nem aprovações. Sou como o pavão que se abre
todo com elogios. Mas uso máscara de humilde. Eu preciso, antes de tudo, ter
uma personalidade própria. Preciso deixar de precisar da aprovação dos outros. Eu
sei, eu sei...
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