“Libra é o único signo do zodíaco representado por um objeto
inanimado. Isso pode parecer insultante, mas me sugere que à medida que
chegamos ao ponto de equilíbrio refletido pelo equinócio de outono, encontramos
algo muito distanciado do reino dos instintos. Libra tem uma mitologia inicial
altamente confusa, o que talvez seja adequado, pois as faculdades de
julgamento, de reflexão e de escolha que parecem ser uma característica tão
básica do signo são frutos do esforço consciente, e não ‘naturais’ ”. É assim
que Liz Greene começa a falar sobre o signo de Libra. Há uma característica
sobre esse signo que acredito que muitos não saibam: nem sempre o signo existia
como entidade separada. “O próprio nome Libra, que significa Balança, parece
não ocorrer antes do século II a.C. Isso levou alguns autores a acreditar que o
signo sequer existia como entidade separada na astrologia primitiva. Ao
contrário, o signo de Escorpião ocupava o dobro do espaço da constelação atual,
abrangendo duas facetas ou aspectos distintos. A parte do céu agora denominada
Libra era inicialmente conhecida como Chelae,
as Garras do Escorpião. É muito sugestivo que a balança do julgamento
equilibrado tenha se originado do que era originalmente o órgão de apreensão da
escura criatura do inferno, que sempre representou o reino ctônico. É como se a
nossa nobre faculdade de julgamento tivesse surgido de algo muito mais velho,
mais arcaico e mais primitivo, evoluindo através dos tempos até o que agora
entendemos como avaliação objetiva ou Imparcial”.
No mito sobre a constelação desse signo voltamos à Astréia,
a deusa que abandonou os homens depois de vê-los em guerra e no caos como
podemos ver aqui http://portodoceu.terra.com.br/artesimbolismo/mitos-07.asp.
“... parece que começa a surgir uma única figura: uma deusa da justiça, uma
Moira civilizada, que adquiriu algo mais refinado que o sombrio e sanguinário
instinto de vingança. Essa deusa julga de acordo com a lei e a moralidade
humana; entretanto, diferentemente de Astréia, que é mais uma representação
ordenada da natureza. O julgamento, no sentido de Libra, repousa sobre
cuidadosa avaliação e reflexão antes de dar a sentença”.
Além de compartilharem a mesma deusa no mito, Virgem e Libra
possuem algumas características em comum. “A deusa Astréia também possui um
pouco dessa qualidade de julgamento discriminativo, embora, como já vimos, sua
esfera seja outra; mas a minha experiência mostra que Virgem e Libra partilham
de um senso de ultraje parecido com relação à transgressão de regras. Parece,
porém, que Libra projeta essa visão de justiça na vida de uma forma mais
elevada”. Mas, claro, também tem suas particularidades. “Forma a base do
intenso idealismo desse signo e de sua crença na justiça da vida. Nunca achei
que se referisse, como nos dizem algumas descrições populares, ao amor
romântico, flores e luz de velas, a não ser como uma preocupação abstrata com
os rituais de corte adequados, segundo uma concepção ideal. O “sentimento”
romântico não é propriedade de Libra. O signo tem muito mais conexão com as
questões da ética e da moralidade, do julgamento e da distribuição”.
Outros duas histórias que Liz Greene associa com esse signo
são as histórias de Páris e Tirésias (que podem ser conferidas aqui,
respectivamente: http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1ris
e http://pt.wikipedia.org/wiki/Tir%C3%A9sias
). No mito de Páris as três deusas oferecem a ele vantagens para que ele
escolha uma delas como a mais bela. “Assim, como um bom libriano, propôs
galantemente que a maçã fosse dividida em partes iguais entre as três. Zeus,
entretanto, não queria evasivas, e exigiu que o jovem fizesse a escolha”. O
resto virou história. Ao escolher a deusa Afrodite, que lhe ofereceu o amor de
Helena, a mais bela das mulheres, desencadeou a famosa Guerra de Tróia. “Dessa
forma, Páris, um dos heróis míticos mais librianos, foi confrontado com a
necessidade de fazer um julgamento – sobre os valores pessoais e escolha ética
– reagindo de forma característica. O fato de seu final ter sido infeliz não
significa que esse seja o destino concreto de Libra, embora às vezes as
escolhas amorosas de Libra efetivamente levem a bastante confusão e
dificuldade. Já vi o suficiente desses triângulos amorosos típicos de Libra, em
que tais escolhas jogam a pessoa em dilemas emocionais (e às vezes também
financeiros) mais ou menos árduos, para estar convencida de que esse mito
engloba um padrão de desenvolvimento típico do signo”.
Tirésias, como pode ser lido no mito, também é obrigado a
fazer um julgamento. “A necessidade de fazer um julgamento foi imposta tanto a
Páris como a Tirésias. Essa necessidade surge dos próprios deuses,
aparentemente em disputa. No caso de Páris, não é difícil discernir a natureza
da escolha, pois não se trata realmente de um concurso de beleza, e sim de uma
decisão sobre o que, em última análise, tem mais valor pra ele. [...] Parece
que, por obra de Zeus, Páris não pode ter as três, o que também sugere algo
sobre o “destino” de Libra. Não é possível comer o bolo todo. [...] A escolha
de uma coisa em detrimento de outra, que a vida parece impor a Libra, não só
contradiz o desejo inato do signo de ter tudo em proporção, em vez de ter uma
coisa a expensas de outra. Esse julgamento também envolve consequências
psicológicas, já que qualquer decisão ética tomada pelo ego significa a
exclusão ou repressão de algum outro conteúdo da psique, o que gera enorme
ambivalência e às vezes muito sofrimento. Acredito que a famosa “indecisão” de
Libra não se origine numa incapacidade congênita de fazer escolhas, e sim do
medo das consequências que as escolhas erradas acarretam. [...] Parece que o
desenvolvimento de Libra incorpora um curioso paradoxo: o signo ama as leis
ordenadas da vida e tem grande fé em sua justeza, mas se defronta eternamente
com os aspectos desordenados e imorais da vida, que fragmentam e dividem a
unidade amada por Libra. Entretanto, nessas vicissitudes aparentemente injustas
pode-se descobrir as marcas de uma ordem mais profunda e irônica [...], para
que possa se descobrir no conhecimento mais profundo dos processos de escolha”.
Concluindo: “De alguma forma, a questão da escolha evolui da
necessidade de decidir quais são os próprios valores, com os conflitos
decorrentes, até vislumbres dos dilemas mais profundos onde se revela que os
próprios deuses têm duas faces e precisam da ajuda da consciência do homem.
[...] De todas as possíveis lições inerentes às histórias de Páris, Tirésias e
mesmo Jó, uma das não menos importantes é a percepção de que talvez os deuses
não sejam tão justos quanto os homens. Se Libra puder chegar a aceitar esse
fato, seu papel de portador da civilização e da reflexão torna-se autêntico e
dignifica a nobreza do espírito humano”.
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