O signo de Virgem é o sexto do Zodíaco e, nele, voltamos
novamente a uma figura humana representando o signo. O mito acerca dessa
constelação pode ser conferido aqui http://portodoceu.terra.com.br/artesimbolismo/mitos-06.asp.
Esse é o mito que os gregos associam à constelação apesar de Liz Greene também
considerar o mito de Perséfone como integrante do signo, como veremos mais à
frente.
No mito, Astréia foge da Terra ao ver os crimes dos homens e
o caos. “Parece que ela é uma imagem da ordem intrínseca da natureza, e seu
desgosto pela humanidade é uma imagem mítica da tradicional aversão de Virgem
pela desordem, pelo caos e pelo desperdício de tempo e matéria. Como Astréia,
Virgem não tem muita simpatia pelos que, caprichosamente, fizeram do mundo uma
bagunça. Tudo tem sua hora e seu lugar no domínio da deusa Astréia; toda forma
natural do universo tem seu respectivo ciclo e valor. Não é surpreendente, com
um daimon desses presidindo o signo,
que Virgem se incline ao ritualismo e a uma visão da vida em que é preciso
restaurar a “justiça”.” Esse é um signo complexo, de paradoxos. “Complexo,
realmente; Virgem parece incorporar um profundo paradoxo, uma combinação da
Astréia honrada e quase pudica, lado a lado com as deusas meretrizes das orgias
lunares da Ásia Menor. Esse paradoxo coloca um enorme conflito para Virgem, e é
desse conflito que surge o padrão de desenvolvimento do signo. Quer se
manifeste através do choque entre a vida pessoal e profissional, entre o
casamento e a independência (um tema comum), entre a espiritualidade e o
materialismo, entre a moralidade e o abandono, Virgem luta com esses opostos a
vida toda, tentando abranger os dois. Muitas vezes o virginiano tenta incorporar
um enquanto sacrifica o outro, o que geralmente causa dificuldades, pois o
destino do signo parece não permitir essa divisão.”
Vale lembrar que a palavra virgem nem sempre teve o
significado de castidade e pureza que tem hoje. “A palavra “virgem”, como o
signo, é complexa. Hoje nossa tendência é entendê-la com relação à pureza e à
inexperiência sexuais, o que está bem longe do sentido original da palavra.
Nossa Virgem astrológica, no contexto mítico, tem pouco de virgem. Basta olhar
para figuras como a Ártemis negra de Éfeso com seus cem seios, que ordenava que
todas as jovens passassem uma noite no templo, prostituindo-se com um estranho,
numa oferenda à deusa, antes do casamento, para perceber a contradição com a
nossa interpretação do século XX (no caso, XXI).” Voltemos à imagem da
prostituta para entender um pouco mais. “Nesse sentido, a prostituta é igual à
virgem mítica, pois é uma imagem arquetípica da mulher livre, que se casou em
primeiro lugar com seu ser interior, e só secundariamente com um homem. Layard
escreve: Portanto, nesse sentido, a palavra ‘virgem’ não significa castidade,
mas o contrário, a gravidez da natureza, livre e não controlada...”
“Pode-se ver por que esse paradoxo interno cria considerável
tensão em Virgem, conhecido como um signo altamente tensionado. A moralidade
interior de Virgem, quando é autenticamente interior e não emprestada do
coletivo dominante – como é o caso dos membros mais tímidos do signo – está de
desacordo com o que poderia ser considerado um comportamento sexual mais ou
menos fora do comum. Entretanto, essa moralidade interna, por si mesma, pode
ser bastante forte, e não menos baseada num senso de “correção” do que os
códigos mais convencionais.” Liz Greene inicia a sua análise do mito de
Perséfone, que pode ser conferido aqui http://www.algosobre.com.br/mitologia/persefone.html.
Ela associa esse mito ao signo de Virgem por ser Perséfone a imagem da donzela.
“Acho que a história de Perséfone é um mito que só se torna destino, no sentido
literal, se Perséfone não consegue se alinhar com sua figura oposta – Afrodite
– e tenta agarrar-se à virgindade no sentido mais literal, isto é, inocência e
repúdio da vida. Nesse caso, a vida, como Hades, tem meios de irromper das
profundezas e forçar a virgem à experiência. Mas mesmo quando se completa esse
padrão mítico – e há muitos níveis e tipos de estupro – surge algo fecundo da
experiência.
Obviamente, a questão não diz respeito unicamente ao sexo, mas incorpora
toda uma visão de vida. A prostituição das deusas virgens não significa meramente
a disponibilidade sexual a todos os visitantes, assim como “virgem” não
significa meramente estar intacta sexualmente. Entendê-la-ia mais como uma
abertura ao fluxo da vida, uma disposição em confiar na ordem natural, uma
aceitação da penetração e da mudança. Contrariamente às descrições populares de
Virgem, creio que esse daimon
paradoxal constitui o verdadeiro cerne do signo.” A arte de ser prestativo
também é típica do signo. “A questão de conceder favores ou graças conforme se
deseja, de acordo com leis internas, em vez de satisfazer expectativas para
obter prêmios parece fundamental à figura mítica da Virgem.”
Virgem tenta ser auto-suficiente. “... Virgem se esforça
para atingir esse estado e muitas vezes os acontecimentos externos conspiram
para ajudar a criá-lo. As vezes o parceiro não é capaz de proporcionar a
segurança desejada, ou é preciso passar um período da vida sem companhia. Esses
acontecimentos aparentemente “predestinados” apontam para uma necessidade
interior de viver com base nos próprios valores e não nos valores dos outros.”
Essas figuras também se referem aos homens. “O virginiano, também, pode ter que
lutar, durante um período de sua vida, com as expectativas da coletividade e a
tranquila segurança de fazer o que é aceitável, e seus valores podem igualmente
ser aqueles da sociedade no começo da sua vida adulta. Os virginianos dos dois
sexos muitas vezes se veem no dilema de ter de escolher entre o caminho seguro,
bem pago e, em última análise, estéril da submissão externa, e o caminho
fértil, mas frequentemente solitário, da lealdade interna.”
Concluindo: “Jung disse em seu ensaio sobre a kore (donzela)
que a virgem sempre precisa ser sacrificada para que possa tornar-se uma mãe.
Esse é o seu “destino”. Não precisamos tomar isso literalmente, porque nenhum
homem, e muitas mulheres, não se tornam mães literais. Mas se a maternidade, em
seu sentido mais profundo, diz respeito à alimentação de potenciais e ao
nascimento do padrão interior na vida exterior, nesse caso esse tema mítico
realmente se aplica aos virginianos dos dois sexos, cujo daimon geralmente os compele a manifestar seus talentos e dons de
maneira diretamente expressiva e concreta. Porém, para que esses potenciais
externos sejam expressos formalmente, é preciso que a virgem morra, pois a
esperança da perfeição desaparece com qualquer criação física. [...] A
contaminação ofende Virgem, mas é preciso haver contaminação para que a vida
seja vivida.”
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