“Já vimos, nos signos precedentes, como os mitos não são
apenas imagens de padrões de vida, mas também modos de percepção que colorem a
maneira como a pessoa vê e experimenta sua vida. Portanto, eles aparecem, por
dentro e por fora, como qualidades da alma e acontecimentos externos. [...]
Para Capricórnio, cuja conhecida cabra é um dos mais antigos símbolos de
luxúria, de cobiça e de fertilidade, o daimon
inicia uma nova volta para baixo e o espírito, revigorado pela revelação da
“luz do céu”, prepara-se para ser iniciado na servidão em nome do Pai”.
Crono é o regente de Capricórnio. O pai que comia seus
filhos pois sabia que um deles o substituiria um dia e o filho que matou o
próprio pai. “Ele é tanto o velho como o jovem rei, pois o mesmo que faz ao pai
é feito a ele. Essa dualidade e unidade de pai e filho, sena e puer, é um dos
motivos míticos dominantes de Capricórnio. O antigo símbolo do sacrifício do
rei também é mais recente do que se possa pensar, pois está presente na figura
de Cristo, o filho de Deus e rei dos judeus. [...] O tema da terra arruinada e
da longa espera pelo redentor, em meio à depressão, desespero e estagnação é um
padrão demasiado comum na vida das pessoas nascidas sob Capricórnio, mesmo dos
que conseguiram o sucesso material, que se acredita ser um empenho tão grande
deste signo”.
“Pode-se ver a encenação do mito de formas aparentemente
comuns. A opressiva incorporação da responsabilidade indesejada, tão
característica do rito de passagem de Capricórnio, parece refletir essa crucificação
na matéria. Prisão, limitação e servidão pertencem à primeira parte da vida de
Capricórnio, quer isso signifique trabalhar no negócio do pai ou casar com uma
mulher que se engravidou, ou qualquer uma das milhares de obrigações que
escravizam sem esperança de liberação. Muitas vezes Capricórnio assume de bom
grado essa servidão, mesmo que haja outras alternativas. É como se procurasse e
desse as boas-vindas a esse destino, por motivos obscuros e muitas vezes
inconscientes. Também conheci muitos capricornianos que adiam tanto quanto
possível essa hora de ajuste de contas, vivendo quase totalmente o puer ou puella,(algo pueril, infantil) temendo o
sofrimento da servidão e igualmente dominados por ela, na rebelião ou na
aceitação. Mas o destino de Capricórnio não é o de Sagitário. Os braços do Pai
não se abrem para receber o filho pródigo, a menos que ele tenha pago em
dinheiro sólido, pois esse Pai não vive no céu, e sim na própria terra. O filho
precisa descer e retroceder para ser preso à cruz da experiência mundana. A
crise do desespero e da fé perdida também pertence a Capricórnio, o grito de
Cristo na cruz: ‘Pai, por que me abandonaste’ “.
Assim como Gêmeos, Capricórnio também enfrenta opostos. “...
a polaridade pai-filho, o Doador da lei vingativo, cujas regras de vida rígidas
e estruturadas se chocam com os desejos do filho, do tipo cabra, lascivos e
libidinosos, que essa polaridade existe dentro da mesma pessoa. Moralidade e
vergonha, lei e falta de lei, parecem abranger alguns dos opostos polares de
Capricórnio. O filho precisa encarar a punição do pai, para descobrir que o pai
está dentro dele; e o pai, o velho rei, precisa encarar a rebelião do filho,
para descobrir que é seu próprio espírito jovem, que ele acreditava ter
superado há muito tempo. A iniciação do filho pelo pai é uma experiência
interior que, aparentemente, como se fosse um destino, muitas vezes é negada a
Capricórnio no relacionamento parental real – portanto, é preciso que ele a
busque dentro de si num nível mais profundo”.
“Esse rito de iniciação [...], a exigência da aceitação das
“regras” e condições do mundo, e a visão final de um Pai misericordioso e de
uma alma imortal, parece ser o caminho saturnino arquetípico. O jovem ou a
jovem não desejam obedecer as condições ou fazer os preparativos necessários;
tudo precisa ser feito agora, precisa acontecer agora, por que esperar? Essa é
a qualidade do puer para o qual tudo
precisa ser instantâneo e espontâneo. Mas a iniciação de Capricórnio não se
ganha pela infantilidade”.
“Se a vida não fornece experiências de fácil acesso para que
Capricórnio faça seu rito de passagem, ele criará problemas para si mesmo. Não
é de espantar que, entre a opção do caminho fácil e do caminho difícil, a Cabra
quase sempre escolhe o difícil. Também não é de surpreender que só mais tarde
na vida o menino jubiloso, finalmente contido pelo Pai, olhe através dos olhos
do homem de meia-idade; ou a menina, cheia da alegria da juventude que ela
provavelmente não teve na juventude real, sorria pelo rosto da mulher
experiente. Essa fé conquistada a dura penas, posta em dúvida, perdida e
novamente encontrada na escuridão, é o sustentáculo do capricorniano maduro que
– homem ou mulher – é então capaz de, com graça, servir de pai para a geração
seguinte”.
Vamos, agora, aprofundarmo-nos no simbolismo da constelação
de Capricórnio: a cabra-peixe que pode ser conferido aqui http://portodoceu.terra.com.br/artesimbolismo/eraumavez-2212.asp.
“O estranho acoplamento dos lados positivo e negativo da cabra, implícito nesse
mito, parece sugerir, como com Teseu, que existe uma profunda conivência entre
os aspectos sombrio e luminoso da mesma divindade. O Pai Terrível, que procura,
secreta e inconscientemente, destruir o filho, também lhe oferece a salvação
através do aspecto feminino do mesmo emblema, que ele próprio ostenta. Essa
conivência secreta, encontrada no trabalho analítico, é bastante assustadora.
Surge a ciência de que, apesar dos medos, resistências, sintomas e problemas da
pessoa, existe algo – não importa a palavra que se escolha para definir esse
algo – que tem um propósito secreto exatamente para esses sintomas e problemas,
como se estivesse dividido contra si mesmo; entretanto, em algum nível muito
oculto, está indiviso, trabalhando para a totalidade maior da pessoa. Esse
princípio, causador do maior sofrimento de Capricórnio – o rígido, atormentado
pela culpa, estreito, temeroso e paranóico velho rei – é o mesmo princípio que
lhes proporciona resistência, determinação e visão do futuro para lidar com
obstáculos, exatamente como no mito, onde uma das faces do daimon Crono tenta destruir,
enquanto a outra face, Amaltéia, socorre e preserva”.
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